terça-feira, 14 de julho de 2015

CARTA AO ALEPH





(ou a 2a. Luta de Jacó contra o Anjo)




por que me ofertas mãos de seda
a tantas mãos renegadas
e a meus dedos se tornam espadas
despencando-me à treva?


por que me acenas caminhos
se carregas as mãos crispadas
e colho a marca dos espinhos
das plantas secas na estrada?


por que me cobras o dízimo
por ter as mãos espalmadas
se o território do vazio
é a palmatória do nada?


por que me concedes a trégua
de repousar em tuas águas
passageiro de mil léguas
afoga-me em vale de lágrimas?


por que me obrigas a voar
de retorno à tua morada
se me interpões o mar
e a inexistência de asas?


que estranha missão reservas
aos dependurados dos pés
_ inversas as bocas mãos de viés _
mastigar ervas amargas?


qual o meu crime hediondo
senão viver da vida o sonho?
vale o céu o dia de hoje:
o sol a luz não me soube!


toma as formas do humano
e a luz precipitará
ã leitura dos meridianos
nova dimensão do olhar!


posto que retornas à cena
ferindo-me a coxa em refrão
sentirás a dor eterna
lançando-te ao chão com o bastão!


confrontando ao tronco a árvore
vergado o galho na mão
à alma tocada a carne
abras (enfim) o coração







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p.379







quinta-feira, 2 de julho de 2015

DE AMOR E DE SOMBRAS






O amor não morre Rosa


O amor não é ave em extinção
O amor não entra na lista dos desaparecidos
O amor não quer saber a quem se dar
O amor nunca deserta de sua função de ser


Às vezes o amor despede-se: tira férias
pois o coração que acendia a tocha apagou


Então se recolhe e se transfere
viaja a um novo coração ferido
torna-se presa de suave melancolia
e retorna disfarçado em sofrimento e alegria


Mas súbito a palha vira fogo
A floresta invade o céu
e inesperadamente uma tarde
a rosa nasce entre as tochas


Onde era azul agora é verde
onde foi Joana agora é Célia
onde foi Tristana agora é Helena
onde foi Clara agora é Karina
e tudo renasce como a chuva
sobre as pedras ávidas de sede


O amor não morre Rosa


O tempo esculpe novos rostos
em antigos sentimentos







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 352