quarta-feira, 20 de maio de 2015

ODE À HÓSTIA





Sol branco de trigo e paz
iluminando o universo interior
Floresces no céu da boca
com gosto de mistério e de milagre
Como Agostinho em Óstia
dividido entre o amor sensual e o espiritual
dissolves-me o parco entendimento
e sinto o amor com a essência do ente amado
Menino ávido de aurora e luz
elevado nessa pura lei da gravidade
oferto os lábios à seara diária E floresço:
trigal de Deus hóspede do divino
Cada ceia acorda a sagrada família interior
e renasço em mim multiplicado em pães e peixes
Brasas ardentes povoam-me o coração!
Que o sol que me desce às entranhas
sarça branca fogo imaculado
é o próprio cordeiro transplantado
síntese solar da mais pura alquimia
que converte em ouro tudo o que era chumbo
e faz do humano a passagem para o sagrado









Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 401



quarta-feira, 13 de maio de 2015

45º FARENHEIT






Teu beijo
é a fórmula secreta da iniciação mais alta da magia
Teu beijo
é o poder da energia pura de todas as cataratas
movendo as hidrelétricas do mundo
Teu beijo
é um pássaro branco carregado de dinamite
Teu beijo
é o manifesto do céu em minha língua
Teu beijo
é a demissão sumária de mil mulheres dependuradas
em minha boca
Teu beijo
é a sétima maravilha do caos
Teu beijo
é a overdose dos destronados que partiram sem asas
segurando uma rosa de cobalto entre os dedos
Teu beijo
é a carência coletiva dos mendigos pedindo compaixão
à porta dos supermercados
Teu beijo
é o sabor de eucalipto do drops da vida
Teu beijo
é um planeta tresloucado gritando pai! por ter saído
da órbita celeste
Teu beijo
é a extrema-unção dos ressuscitados
Teu beijo
é a rendição incondicional dos exércitos da minha tristeza
Teu beijo
é o cumprimento da secreta lei do abismo
tábua da desordem céu do excluído
que faz minha boca ofertar-se penitente
no altar do mais absurdo sacramento









Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 348





terça-feira, 5 de maio de 2015

AMOR: O CUMPRIMENTO DA LEI






De grande e pequenos gestos
vive o amor:
sol no coração
água na emoção
até molhar as raízes
do mais alegre verão!


De grande e pequenos gestos
morre o amor:
lua no coração
deserto na paixão
até secar o íntimo oásis
da fonte da emoção!


De pequenos e grandes gestos
renasce o amor:
fogo no coração
chuva na emoção
até ressurgir a luz
cristalina da paixão!


Ó natureza naturante
ferida mas não decaída!
De pequenos e grandes gestos
renasce sempre o amor
pra que se cumpra a natureza
na lei eterna da vida!








Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 410