Luís Augusto Cassas |
O mais recente livro de Luís Augusto Cassas - O Retorno da Aura (1994) - representa uma viravolta na obra desse importante poeta e, curiosamente, aproxima-o da conceituação filosófica de Gaston Bachelard e da sua crítica do imaginário ou mitocrítica.
É necessário recordar: Bachelar introduziu a imaginação da matéria como objeto de estudo. Seu método consiste em determinar a força psíquica da linguagem e não apenas seu significado/significante, como querem os cultores da semiótica.
A palavra - dizia ele - está centrada sobre "o instante agressivo, a frase deve tornar-se um esquema de forças motrizes coléricas" e, por isso, o papel do verbo é permanecer no presente, em vez de "de se impregnar com a história da língua e de repetições, como Leconte de Lisle, um eco quase sempre impotente, sempre inverossímil das vozes heroicas do passado.
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(1994) |
O que consegue Augusto Cassas em O Retorno da Aura é uma combinação do que recomenda Bachelard, com o que vivenciou Fernando Pessoa em seu longo transitar pelo esoterismo: "Eu e o mistério face-a-face".
A virada do poeta maranhense, a busca do essencial, dá para perceber com nitidez que, como tantos outros intelectuais de talento, concluiu: "há algo de podre no reino do poema". E como se processa a decomposição? Pelo modismo, a mesmice, o verso anti-imaginário.
Quando os poetas tentaram viradas em décadas anteriores, defrontavam-se com os caminhos meramente ideológicos. Maiakovski teria optado pelo suicídio, a fim de não submeter-se ã dialética partidária, embora tenha sido, na primeira hora, dos mais entusiasmados defensores da Revolução de 1917.
Osvald de Andrade enfrentou dificuldade semelhante. Imaginou que a doutrina comunista seria a rampa de lançamento do novo ideário poético e não era nada disso.
Cassas talvez tenha encontrado o caminho, seguindo os silenciosos passos de Fernando Pessoa que, fugindo ao brilho da forma, mergulhou profundo na seiva do imaginário, na "mente das coisas", para defrontar-se com a "grande verdade".
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Rosebud (1990) |
Agora, "aos pés do cosmos", de posso do seu manual do buscador, sem fronteiras ou limitações ideológicas, ei-nos diante de um outro Cassas. Com a lucidez do mago, revela: "o sol aceso no peito aquece-o nas noites de inverno e incompreensão".
Em O Retorno da Aura o que vemos é o poeta tomado pela liberdade de expressão, distanciando-se do inconsciente, para que aflorem as imagens adormecidas nas palavras. "E o autor projetando-se nas coisas e, com ele, o leitor", como lembra Jean-Yves Tadié.
Após saltar os muros das limitações ideológicas e teológicas, Cassas passou a ver com outros olhos o velho mundo novo e foi tão grande o choque que aí nasceram estes versos: "A vida não é ouro prata esmeralda rubi. É também ferro e cobre chumbo e lágrimas".
A segunda parte de O Retorno da Aura - Breviário do Azul - compõe-se de trabalhos, como Golden Meditation, A Obra em Cinza e A Língua de Einstein. Para alçar-se a voo tão desafiador, o poeta precisava de um arsenal de palavras, de todas, se possível - elos de ligação dele com o outro, com o ausente, com o centro. Quanto mais intensa for a lide do "buscador" mais ele se avizinhará da metalinguística pluridimensional; já não será nem o poema, nem a prosa, nos termos em que a recebemos - histórica e pacífica herança.
O Retorno da Aura é, portanto, na obra de Cassas, um divisor de águas, o batismo esotérico que, por certo, o levará a remoto passado, quando os poetas (filidhs) e os sacerdotes (druis) célticos escreviam as páginas das antigas sagas, isso bem antes do século V a.C. E se o passado é tão recuado, lá no limiar da História, termina tendo conotação de futuro, pois os extremos se tocam.
Enquanto isso, e com a circunspeção de um dedicado discípulo de Lao-Tsé, diz Cassas: "Quedar-me-ei com a pureza fria dos resignados/ e pedirei humildemente que me intua/ a verdadeira ciência/ de estar neste mundo sem ser necessariamente dele".
O tom é bem diferente do Cassas de Rosebud, na Imitação de Cristo: "Eu também tenho 33 anos completos/ barba por fazer/ paixão por prostitutas/ ódio da humanidade...".
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A Poesia Sou Eu, vol. 1 (21012) |
O fenômeno Cassas vem se juntar ao místico-maldito Neuro Machado e a José Chagas com seu secreto fascínio pelo ser humano. O obra deles recoloca São Luis na vanguarda poética do país e talvez do hemisfério. A poesia que praticam, longe de ser um exercício burocrático, é pura danação astral, a impeli-los para a mesma sina do "buscador". E o que buscam?
Fernando Pessoa procurava a unidade que seria, também, a identidade. "Pertenço a tudo que pertencer cada vez mais a mim próprio (...) Um outro flui, entre o que sou e o que quero. "
Cassas passa por perto. "Eu quero a minha aura escurecida/ na perda do amor pelo prazer/ vilipendiada (...) Eu quero a minha aura/ com a liberdade do ser e não a prisão de ter(...) Eu quero a minha aura/ ensanguentada pelos crepúsculos de Dachau e Bombaim"...
Cassas remete-nos à seguinte lenda: o grego Ostanes era um mestre da alquimia, isso lá pelo amanhecer dos tempos. Conhecia Demócrito, um dos primeiros escritores esotéricos. Ostanes teria dito ao escritor: "Nas correntezas do Nilo encontrarás um pedra que tem espírito. Toma-a, quebra-a e enfia tua mão dentro dela para extrair-lhe o coração, pois sua alma reside em seu coração."
Em O Retorno da Aura, o poeta Cassas abre as portas para a alma da pedra de Ostanes, com seus mistérios insondáveis e verdades multifacetadas. Isso o credencia a nos dizer, com a espontaneidade de quem sabe:
"... se encontrar a verdade/ detrás dos seus sete véus vislumbrarei a felicidade (...) Estar no centro - da consciência e do coração - / é a única maneira de ser junto com o universo/ e pulsar no ritmo cósmico da luz/ e da sabedoria da vida."
JOSÉ LOUZEIRO
José de Jesus Louzeiro (São Luís do Maranhão, 19 de setembro de 1932) é um escritor, e roteirista brasileiro.
Iniciou sua carreira como estagiário em revisão gráfica no jornal O Imparcial em 1948 aos dezesseis anos de idade. Em 1953, aos 21 anos, se transfere para o Rio de Janeiro onde foi trabalhar no semanário: A Revista da Semana e no grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, mais especificamente como "Foca" em O Jornal e daí foi deixando suas marcas através de suas redações nos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Folha e Diário do Grande ABC e nas revistas Manchete e Diário Carioca.
Por mais de vinte anos atuou também como repórter policial. Na literatura, estreou com o conto Depois da Luta, em 1958, no cinema escreveu os diálogos do filme:Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, baseado no romance de sua autoria lançado em 1976 pela editora Civilização Brasileira. Escreveu outros livros sobre casos policiais famosos como "O caso Aracelli" e "O assassinato de Cláudia Lessin Rodrigues". Em Carne Viva (1988) traz personagens e situações que lembram as mortes de Zuzu Angel e seu filho, Stuart.1 Seus livros são, na maioria, contos biográficos, narrados como romance-reportagem, chegando perto de quarenta publicações. A ele se atribui a introdução no Brasil do gênero literário romance-reportagem, que no exterior tivera como representante Truman Capote, que escreveu A Sangue Frio.
Assinou também o roteiro de dez filmes, sendo quatro deles já populares como Pixote, a Lei do Mais Fraco, Os Amores da Pantera de Jece Valadão, O Homem da Capa Preta e Amor Bandido, com Paulo Gracindo.
Escreveu telenovelas como Corpo Santo e Guerra sem Fim. Mas sua telenovela O Marajá, uma comédia baseada no governo de Fernando Collor de Melo, foi proibida de ir ao ar, numa época em que não havia mais censura no Brasil. Depois desse episódio, o autor conta que começou a enfrentar dificuldades para realizar novos projetos na televisão.
Fonte: Wikipédia
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