Quando os cupins invadiram a biblioteca
e devoraram as letras e o papel dos livros,
senti que algo desmoronava em mim
como a torre ceifada pelo raio.
(Outrora tinha acontecido assim.
quando encontrei uma cobra no jardim
e descobri que o egoísmo
era meu inimigo oculto)
Repetia-se a representação externa
de um drama íntimo da alma,
em que os cupins anunciavam a terrível revelação
de que o antigo eu estava sendo destruído
e o espírito (com fome e sede de verdade)
quisesse libertar a alma oprimida.
Percebi (então) que era absolutamente essencial
jogar fora o conhecimento dos livros,
o orgulho intelectual e a redoma de cristal,
e limpar todos os compartimentos do ser
para que a alma pudesse buscar o céu.
Dentre os escombros, - liberto da opressão da matéria, -
um pequeno espaço brotava em mim. Aberto à claridade.
Mas nele cabia - as estrelas, a lua e o sol, -
e a dimensão profunda de que algo novo
- algo terrível e absolutamente belo, -
a Vida
estava pronta a ser decifrada.
Luis Augusto Cassas
In O Retorno da Aura, p. 39
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