Mamãe foi o prato mais apetitoso
nos almoços de
domingo em família
Sorria como o
desejo em flor
assada na maçã de nosso ardor
devorada nos quintais da alegria
Consumida pelos filhos e netos
e pelo marido
(q enquanto viveu
coube-lhe o melhor pedaço e a ambrosia)
não houve dia em que nos recusássemos
a mastigar-lhe a presença macia
Mamãe alimentou espiritualmente
todos os
membros gulosos da família
a uns dava tetas e colo a outros bolso
enquanto alguns nutria a puro leite
por sua grande
intimidade com Maria
Seu altar era a mesa farta
onde sagrava o banquete das terrinas
Não nos deu pedra quando lhe pedimos pão
e quando famintos reclamamos: ágape!
fez das tripas coração
Hoje as mães são independentes
não se fazem
mais almoços de domingo
como nos quintais de antigamente
em que as leitoas cantavam em fogo brando
as melodias do puro amor ardente
Nessa hora revejo a minha mãe
de todas a mais bela e a mais carente
tornada filha de seus filhos e seus netos
lendo a sinopse das sinapses de A a Z
tentando dar sabor a seu presente
O nosso canibalismo
amoroso
possa nos devorar em
sacrifício
restituindo
o significado de sentido
àquela cujo exercício
dadivoso
consumou-a a ceia no espírito
Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2
In A Poesia Sou Eu, vol. 2
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