Terrível é ter faróis acesos
e não vencer a neblina dos homens
O olhar do peixe tem um vazio ancestral
Giram no arco-íris da pupila
os segredos do éter universal
a crônica interrompida de Akasha
peregrinações ao Mar Morto
reencarnações de outros mares
cartões postais de oficiais da SS
quebrando as espinhas de seis milhões de judeus
sonhos de uma humanidade distante
(uma sede ancestral de outras águas
derrama lacrima christi em seus olhos)
Sob os sinais de tortura
quem se deterá para fitá-lo?
Ante a fumaça dos olhos
quem ousará
incomodá-lo?
O olhar do peixe é profanador
como os castiçais de Sardanapalo
e belo como um anjo de procissão
enfrentando na
igreja o diabo
Observai o marítimo sacrifício
dos campeões do despenhadeiro líquido
Lavai as mãos e a consciência
antes de adentrar-lhe o frontispício:
púrpura kriptonita acrílico
No sepulcro dos frigoríficos
aplaca o karma o zodíaco
O mar é anterior ao peixe
ou o peixe é anterior ao mar?
Só Rembrandt e Picasso
podem explicá-lo
O estado fundamental do peixe
é ser repartido
Mas só lhe mensuram o cálcio
o ômega-3 o
potássio
Que lições herdou
do mar do espírito?
Quantas hidrelétricas iluminam
o raio devastador de seu cobalto?
Às vezes a sua sede explode torres
é quando lança a sua pedra do calvário
com a fúria do
cordeiro
para salvar os irmãos de aquário
Mas logo retorna ao mar de transcendência
e o olhar
retorna impávido
ao seu canto de finados
Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 261
Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 261
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