PRÓLOGO
coroada de lírios
morangos à boca
estrelas nos cílios
a loucura à porta:
_ "vem a meus lábios
cultiva os sentidos:
no prazer florido
desabrocha o sábio"
com mãos de alegria
banhada de aurora
a sabedoria
tece o sol e ora:
_ "queres - glória ao céu -
bem-aventuranças?
reveste o prazer
com a luz da ciência!"
O PRAZER
O prazer é o início da loucura
e o fundamento da sabedoria
vivê-lo _ atravessando a selva escura _
coroar-te-á de caos ou alegria
Eis a doutrina do prazer
que à loucura é fantasia
alegria felicidade
sábia bem-aventurança
consagra-lhe todo o ser
tempera-o com o azul ternura
tornarás a ser criança
aceita a expulsão do paraíso
quedas? tropeços em pedras
restaura a senda com pétalas
e o desejo será teu amigo
vê: o trabalho do prazer
é reintegrar-se ao ser
_ mas qual a glória do prazer?
_ servir à causa do ser!
medita nesse pantáculo
e protege a tua casa:
delícias - crescerão asas
delírios - duros tentáculos
prazer pelo prazer
não existem níveis seguros
ao consumo das substâncias:
mergulha em sua toxidade
solidão - a recompensa
queres ser mestre
na arte de viver?
igual moisés no deserto
que ergueu a serpente ao alto
às regiões celestes
dirige o prazer
(não sucumbas à tentação
de entrevar o coração)
leva rosas à vida:
jamais colha flores
no jardim vizinho
torna água em vinho
não serás sozinho
ó prazer da noite escura
que une o amante e o amado
esvazia-nos o amargo travo
preenche o ser de doçura!
renuncia ao prazer
e virá te servir
abdica ao ser
e virá luzir
vós que privilegiais o fazer
não perturbeis o prazer
não o forceis ou o apresseis
antes que a luz se manifeste:
conhecendo-lhe o poder
acrescentando-lhe o saber
sereis tolos ou reis
à essência que reflete
ó qualidade de vida
meço-te em abraços-hectares
do prazer em mil teares
que abraço o corpo da vida
celebra o prazer trino:
mens/sentimento/ vontade
alcançaras a unidade
e servir-te-á o divino
dou-te novo mandamento:
não afrontes o sentimento
e conservarás o templo
em teus dias sobre a terra
ao prazer dedica-lhes as horas
sagradas à glória eterna
EPÍLOGO
um dia lambando as nuvens
erguida em irmãs - paisagens
a sabedoria e a loucura
trocando posters/ figuras
verão que o gozo é viagem
ritos de humana passagem
e erguendo aos céus nova taça
concluirão: tudo passa
saboreando com arte
sorvetes de chocolate
Luís Augusto Cassas
In A Mulher que Matou Ana Paula Usher, p. 81
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