1
não serás jeanne
hébuterne
hôpital de la
charité
voando pela janela
até modi
nem clara
de assis
nem eu
francisco
(casados em espírito
devotos pelo serviço)
nem
penélope
tecendo luas
ao retorno
de ulisses
nem gala
(dólar)
aguardando
dalí: seu sonho
de consumo
(no lar)
nem
frida khalo
ao seu encaracolado
diego:
"_ pés pra que vos quero
se não tenho asas para voar?"
2
dois loucos
numa noite suja de anima
lavando do karma a hybris
dois corações
apaixonados
brincando como leões no circo
duas ovelhas negras
clamando por pureza
numa selva de vínculos
o magnetismo do amor
arremessávamo-nos ao infinito
mas em nós espiava o bicho
3
ainda que caminhasses
pelas sendas da agonia
e o hades atravessasses
te faria companhia
seria o novo
em tua colmeia
seria teu povo
tu minha rainha
mas na noite escura
da nossa humana loucura
incomodados Deus
em sua ventura
4
por mais que calemos
o grito
somos
o mito inconcluído
o submito
q fugiu no
elevador de serviço
e mora - golen
romântico - entranhado
nas paredes do prédio
recendendo a saudade
e lixo
(aprendamos humildes
a lição do espírito:
arrependamo-nos do equívoco
repensemos nosso arbítrio)
5
somos a letra perdida
do alfabeto hebraico
talvez reencontrada
em novo sonho arcaico
somos o vaso alquímico
que não suportou o segredo
e ao fabricar o ícone
fugiu a luz entre os dedos
tua teologia negativa
cortou-me a cabeça da hidra
mas reconciliei-te com eva:
o coração de maria
a lua apagou o seu alfanje
o sol rompeu nos mirantes
em nome do amor perdoemo-nos
o que foi demais não sendo
6
alma gêmea
alma fêmea
paiol de lenha
pelas caligrafias
do infinito
caminhemos
rumo
a novas constelações
e oceanos
sê o último portal
além do bem e do mal
até o amor real
Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 355
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