sexta-feira, 19 de setembro de 2014

E (O FILHO PRÓDIGO: Um Poema de Luz e Sombra)



Por órfãos caminhos meu pai
não poupou o primogênito
mas o entregou por seu amor ao mundo
E foi abençoado com as honras de Vênus
e o anel de Júpiter


Segundo as regras sociais
e o código de ordenações morais
era de reputação ilibada
dono de risada ensolarada
excelente pai de família
cultor de feijoada e homília
um homem reto e sem vícios
a não ser o excesso de princípios


Após 60 anos de poder
o Imposto de Renda
e a deusa Themis (de vendas)
concederam-lhe par de asas:
legou-nos carro usado
e velha casa


Mas no Olimpo doméstico
escoltado por suas águias
a polaridade cobrava 
a luz que ao mundo doava
Ali onde toda interioridade
era inferioridade
os introvertidos - detentores 
de estranhos segredos -
condenados ao desterrro


Antimilagre da vinha
Abraão levantava o braço
Isaac baixava o cachaço
mas o céu não intervinha


Narciso ao avesso
toldei a imagem
de insana viagem
de autodesprezo


Trágico engodo
servido c/ torresmo:
poderia ser todos
menos eu mesmo


E almoçávamos contritos
disfarçados do ocorrido
empanturrados de sol
mas de afeto subnutridos








Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 370


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