sexta-feira, 14 de março de 2014

AO DEUS ÚNICO


    

 A)
belo é desencavar
o arco-íris
quando brincávamos
nas sarças
formando com pedrinhas
o aleph

(philon abraão
espinosa e Nietzsche
cantando nas hermas
a música das esferas)

éramos um
o pequeno davi
e o todo poderoso:
(a parte e o todo)
asas da oxigenação

entre o nada
e o nadir
à hora perigosa
girou o compasso
a escuridão

mudei eu/tu
as tardes de azul?
mas não serei
o teu acusador
sempre romperei
o pacto da flor
leio no céu e terra
a tua inscrição
responde por sinais a intriga:
as tragédias coletivas
e a minha vida
em carne viva
clamam a água viva


 B)
por que 
uma célula
em cisão
fragmenta
a unidade
desvia-se 
da gravidade
e funda
outra constelação?
por que
a parte
desligada
do todo
louco kamikaze
explode
o velho
e o novo?

em que 
escola
aprendeu
o suicídio
coletivo:
a revolta
contra o eu
e a glória
de estar vivo?
por que
planeta 
em comício
mergulha
em negro
equador:
contamina
o infinito
enlouquecido 
de dor?


C)
se sou culpado
envia-me cuidados
dissipa-me a confusão

constelações de mim
aguardam sedentas
nas páginas do deserto
ou mar das tormentas


a tua manifestação




Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 310




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