segunda-feira, 9 de junho de 2014

A BUSCA DO MITO (pintando quadros)







1
não serás jeanne
hébuterne
hôpital de la 
charité
voando            pela janela
até                   modi


nem clara
de assis


nem eu
francisco
(casados em espírito
devotos do serviço)


nem
penélope
tecendo luas
ao retorno
de ulisses


nem gala
(dólar)
aguardando
dali: seu sonho
de consumo
(no lar)


nem
frida khalo
ao seu encalorado
diego:
"_ pés para que vos quero
se não tenho asas para voar?"



2
dois loucos
numa noite suja de anima
lavando do karma a hybris



dois corações

apaixonados
brincando como leões no circo


duas ovelhas negras
clamando por pureza
numa selva de vínculos


o magnetismo do amor
arremessávamo-nos ao infinito
mas em nós espiava o bicho



3
ainda que caminhasses
pelas sendas da agonia
e o hades atravessasses
te faria companhia


seria o novo
em tua colmeia
seria teu povo
tu minha rainha


mas na noite escura
da nossa humana loucura
incomodamos Deus
em sua ventura



4
por mais que calemos
o grito
somos
o mito inconcluído
                        o submito
                        q fugiu no
elevador de serviço
e mora -  golen
romântico - entranhado
nas paredes do prédio
recendendo a saudade
                      e lixo


(aprendemos humildes
a lição do espírito:
arrependamo-nos do equívoco
repensemos nosso arbítrio)



5
somos a letra perdida
do alfabeto hebraico
talvez reencontrada
em novo sonho arcaico


somos o vaso alquímico
que não suportou o segredo
e ao fabricar o ícone
fugiu a luz entre os dedos


tua teologia negativa
cortou-me a cabeça da hidra
mas reconciliei-te com eva:
o coração de maria


a lua apagou o seu alfange
o sol rompeu nos mirantes
em nome do amor perdoemo-nos
o que foi demais não sendo



6
alma gêmea
alma fêmea
paiol de lenha


pelas caligrafias
do infinito
caminhemos


rumo
a novas constelações
e oceanos


sê o último portal
além do bem e do mal
até o amor real







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 355




Nenhum comentário:

Postar um comentário