sexta-feira, 13 de junho de 2014

DISCURSO DO INTELECTUAL SOBRE O AMOR



                                                                                                                               a Roland Barthes



O amor é para ser lido
num dia de domingo
(ou então) segunda-feira
Rostos e cabelos
não são passagens mas hieróglifos
Tempos e circunstâncias
são indícios
Bocas e línguas
são solstícios



O amor é para ser vivido
na branca cama do linossigno
como uma página aberta
e/ou desejo repleto de possibilidades
Dicionário de probabilidades
no triângulo das bermudas
uma perna distante
é uma perna perdida



O amor é para ser consumido
como uma laranja grega
ou um sol tombado
cheio de gemas e pantáculos
onde se estuda o mel dos anacoretas
no mar azul das molhadas hélades
e o efeito estufa do canto das sereias
nos gatos aprisionados nos navios



(Quem não souber ler signos
e dissecá-los sem perplexidade
jamais compreenderá profundamente
o significante do significado do amor:
mensagem interceptada no dilúvio
colar de conchas roubado à praia
borboleta de ouro batendo asas
no sonho acordado de Salomão)



O amor é para ser amado
como lua de mel da especialidade
viagem de férias da realidade
carta de colagens dos sentidos essenciais
Fragmentos de um discurso amoroso
são litanias de deuses sem ascenso
ainda que aos cépticos a musa decadente:
_ "Ai amor eu não te amo mais!"









Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 351



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