sexta-feira, 11 de outubro de 2013

DANÚBIO CINZA




O amor e a morte sempre me deixaram sem palavras
como um piano de cauda tocado frente ao oceano.
Subterrâneos, os risos e as lágrimas correm transbordantes
na introvertida face do olho e a boca que ninguém vê.
Explosão de vida que é do céu da alegria e das ondas do amor
que se arremessam contra os arrecifes do destino,
qual vidraça da alma estilhaçada por uma pedra
nas azuis espumas que o oceano destilou internamente?!
Oh gaivotas da agonia! Praias do coração despovoadas!
Que mal eu fiz para afogar-me na líquida seiva
do amor e da morte que me afogam o coração?
Oh amor de morte! Oh morte do amor! a quem o poeta
pensava não morrer. Se se morre de amor? Sim, sim se morre.
Mas se renasce. Assim como o oceano renasce a chamado do sol
para a manhã claro-dourada da existência.
A quem buscar nessa sinfonia do indizível silêncio
se ninguém ouve o lamento dessa nota dissonante?
A que distância de minha alma suspira a meia-metade,
envolta na imensidão da vaga melodia?
Toca, piano, a ária desse amor desengonçado!
Toca, piano, a valsa cansada desse amor encarcerado!
Que o amor e a morte sempre me deixaram sem palavras,
e o que resta - navio fantasma desse deserto marítimo -
é apenas ser ouvido pela face feminina da minha alma
enclausurada na noite mais profunda do meu ser!






Luís Augusto Cassas

In Liturgia da Paixão, p. 114



Nenhum comentário:

Postar um comentário