sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

RUMO À ESTAÇÃO SATURNO





o tempo é preciosa invenção
dos fabricantes de relógios suíços
vendem ampulhetas de ouro aos executivos
pra cronometrar as belas manhãs do mundo


é o ágio dos construtores imobiliários
vendendo a alma a prazo ao diabo
repassam dores a perder de vista
aos condôminos babélicos e tristes


é a concessão aos floristas de plantão
embarcando flores azuis de amsterdã
às 5 da manhã
pra moça da alfândega não morrer de tédio


é a dimensão psicológica dos artistas
reinventando o azul onde era o abismo
é o modelo do tédio dos ascetas
recolhidos ao himalaia do silício


é a alegria confiscada ao arco-íris
pelos atacadistas da esquina
é o esporte predileto das estátuas:
o livre pensar da água


o tempo é um carneiro envelhecido
gritando nos matadouros da eternidade
é cortesia aos turistas
patrocinada pelos agentes de viagem


é a merchandagem dos agentes funerários
vendedores de céu de primeira classe
é uma gentileza aos especialistas
ávidos do todo grávidos da parte


é o calendário (sem prazo) da agonia
esgotando suas possibilidades
é o cavalo enfurecido da vida
batendo o recorde do próprio galope


ó cronos em tua aparente desordem
no complexo caos de tua ordem
engendras o amanhã o hoje e o outrora
mas o teu tempo é o infinito agora




Luis Augusto Cassas



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