quinta-feira, 10 de abril de 2014

O ESPELHO





Companheiro a vida é escândalo
se à luz o reflexo ignoras
Não procures nas nuvens os anjos
Os demônios não estão lá fora

Separa o sutil do espesso
na imensa teia dos dogmas
Contemplarás pelo avesso
o ser que tanto deplora

Combate interno o perigo
de erguer castelos e mitos
Libertar-te-ás do castigo
de ser o próprio inimigo

Por que os homens sendo soltos
permanecem prisioneiros?
Débeis lançam ao mar revolto
a chave que os mantinha inteiros!

Não busca a via que transforma
Aguarda o sagrado bem
Esculpirá áurea a forja:
ao peito - Jerusalém!

Ah! Jerusalém soubessem os
homens de onde jorram as fontes
estilhaçariam os reflexos
que cavam abismos Não pontes

Aceitar o inaceitável
absorver o absurdo e a raiva
integrar o imperdoável
consumar o todo e o nada

dissipar véus e neblinas
jamais negar a descida
mas reelaborar a subida
desvelará sino e sina!

Até lá prisioneiro
combaterás contra o espelho
destruindo inútil guerreiro
a glória de seres tu mesmo!




Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol.2, p.528





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