sexta-feira, 4 de abril de 2014

O PRAZER (Doutrina da Poesia)




PRÓLOGO


coroada de lírios
morangos à boca
estrelas nos cílios
a loucura à porta:

_ "vem a meus lábios
cultiva os sentidos:
no prazer florido
desabrocha o sábio"

com mãos de alegria
banhada de aurora
a sabedoria
tece o sol e ora:

_ "queres - glória ao céu -
bem-aventuranças?
reveste o prazer
com a luz da ciência!"



O PRAZER

O prazer é o início da loucura
e  o fundamento da sabedoria
vivê-lo _ atravessando a selva escura _
coroar-te-á  de caos ou alegria

Eis a doutrina do prazer
que à loucura é fantasia
alegria felicidade
sábia bem-aventurança
consagra-lhe todo o ser
tempera-o com o azul  ternura
tornarás a ser criança

aceita a expulsão do paraíso
quedas? tropeços em pedras
restaura a senda com pétalas
e o desejo será teu amigo

vê: o trabalho do prazer
é reintegrar-se ao ser
_  mas qual a glória do prazer? 
_ servir à causa do ser!

medita nesse pantáculo
e protege a tua casa: 
delícias - crescerão asas
delírios - duros tentáculos

prazer pelo prazer 
não existem níveis seguros
ao consumo das substâncias:
mergulha em sua toxidade
solidão - a recompensa

queres ser mestre
na arte de viver?
igual moisés no deserto
que ergueu a serpente ao alto
às regiões celestes
dirige o prazer
(não sucumbas à tentação
de entrevar o coração)

leva rosas à vida:
jamais colha flores 
no jardim vizinho
torna água em vinho
não serás sozinho

ó prazer da noite escura
que une o amante e o amado
esvazia-nos o amargo travo
preenche o ser de doçura!

renuncia ao prazer
e virá te servir
abdica ao ser
e virá luzir

vós que privilegiais o fazer
não perturbeis o prazer
não o forceis ou o apresseis
antes que a luz se manifeste:
conhecendo-lhe o poder
acrescentando-lhe o saber
sereis tolos ou reis
à essência que reflete

ó qualidade de vida
meço-te em abraços-hectares
do prazer em mil teares
que abraço o corpo da vida

celebra o prazer trino:
mens/sentimento/ vontade
alcançaras a unidade
e servir-te-á o divino

dou-te novo mandamento:
não afrontes o sentimento
e conservarás o templo
em teus dias sobre a terra
ao prazer dedica-lhes as horas
sagradas à glória eterna



EPÍLOGO

um dia lambando as nuvens
erguida em irmãs - paisagens
a sabedoria e a loucura
trocando posters/ figuras
verão que o gozo é viagem
ritos de humana passagem
e erguendo aos céus nova taça
concluirão: tudo passa
saboreando com arte
sorvetes de chocolate




Luís Augusto Cassas
In A Mulher que Matou Ana Paula Usher, p. 81




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