quinta-feira, 24 de julho de 2014

A ESCRIVANINHA



Jamais possuí escrivaninhas
p/ celebrar generosas utopias
Sequer mesinhas com florzinhas
p/ compor frágeis litanias
A linguagem gloriosa e guerrilheira
venceu a fotografia estática
mas filiou-se à dinâmica da vida
em que a indignação é movimento
Na sala de estar almocei sonhos
nunca a refeição completa
Em cooper lírico-energético
escrevi em bancas de jornais
filas de banco assentos de praça
mesas de restaurantes muros descascados
salas de musculação coxas entreabertas
Meus poemas converteram-se em tatuagens
aleivosias decalques pichações
Deitado na rede cabeça inversa
verso na cabeça o que sou?
apenas fragmento de poema
Meio-Padmásana - eis a posição ideal:
pano de fundo - a colcha da cama
Minhas escrivaninhas ambulantes
só o vento as registrará:
nenhum museu ostentará
o móvel antigo talvez rococó
invisível objeto de estimação
com a moldada cadeira por companhia
onde a ausente coluna cervical
vergou-se ao peso da poesia






Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 226


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