quarta-feira, 2 de julho de 2014

O SEGREDO DE DEUS




Há anos guardo comigo
um segredo
Salvo-conduto do humano
passaporte para o eterno
só eu sei dele
e Deus


Desde a madrugada de outrora
quando o fogo misturou-se à água
e os sete planetas foram criados
trago-o guardado a sete chaves


Dele não falo às árvores
ou dou notícias aos peixes do rio
Medo de trair o estranho pacto
que o universo revelou-me
num terrível jogo de dados
sobre o paradoxo da criação


Às vezes
o segredo pesa
como bomba de nitroglicerina
Às vezes
é leve
como a carícia do vento
(minha estratégia
é carregá-lo como pluma
embora tenha peso de pena:
as duras penas de existir!)


Crepuscularmente
quando as trevas e a luz se compreendem
no abraço oposto da lua e do sol
acende-me um riso cúmplice
de intimidade com os mistérios da vida
Sutil Deus fala por símbolos
e retribui com um piscar de estrelas
selando a nossa aliança de silêncio
sobre a grande ironia da criação


Ele é o autor do meu mistério
Eu sei parte do seu segredo
Cúmplices seremos
por toda a eternidade







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 362

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