terça-feira, 27 de maio de 2014

A PORTA ESTREITA

Saturno


Saturno manda chumbo grosso
O meu tempo se esgotou
Sou uma alma que jamais
coube no próprio corpo
(e eu digo: não sou grego
nem conheço o seu panteão)
Não renovará licença de oxigênio
sistema imunológico coração
Acusa Netuno de drogar-me
sendas iniciáticas & ilusão
Júpiter de ativista de excesso
expansão sem contração
Vênus de submeter-me
à nutrição do prazer
(fujo pela esquina:
fecha-me na contramão)
Veio pra me ensinar a ser
mas desconsidero a lição
(só passando por seu cadáver
permanecerei no salão)
Já me mandou catástrofes turnês
hospitalares ameaça de castração
(e continuo a vestir
a armadura da negação)
Saturno olha-me nos olhos
amável pede reconsideração
(Estranho membro do clero
em sinistra devoção)
_ "Como ser pobre de espírito
sem aceitar a transformação?"
Amorosamente vi o Mestre
envolto em negra compaixão
(Os olhos de lágrimas negras
pingando óleo pelo chão)
Súbito a ficha caiu
e rolou a conexão
_ "Eis-me aqui: digo
ao meu fim e início
submeto-me ao sacrifício
e aceito a restrição"







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 367


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