quarta-feira, 21 de maio de 2014

A PROFUNDIDADE E A ALTURA




queres a suprema loucura
de galgar aos céus a altura?
lança-te correnteza abaixo
mergulha no íntimo riacho
desce à raiz do cataclismo
beija as mil faces do abismo
entre o túmulo e o tumulto
guarda as horas do escorbuto
deposita o ego: este porco
na habitação dos mortos
proclama-lhe dia de festas
consagra-lhes finas exéquias
resgatado ao céu o dízimo
implora ao alto o espírito
e oferta-te em sacrifício
pela graça de estar vivo
no dia do tempo e do vento
descerá do trono e templo
descruzar-te-á os braços
elevando-o ao seu afago
com o seu fogo consolador
lavará o hades interior
em seus rios de água-viva
irás à terra prometida
despido da glória vã
verás a estrela da manhã







Luís Augusto Cassas
In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p. 538



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